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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Desabafo

Eu queria, nem que fosse somente por um instante, compreender o significado da verdade que vejo em teus olhos.
Como posso assumir severa dor por tal que até pouco tempo atrás se fazia por completo desconhecido pra mim?
É possível que realmente exista tal profundidade de amor, ou seria somente uma carência exacerbada somada a já natural sensibilidade do meu ser errante?
Se assim fosse, qualquer um serviria. Porque então tu? Tenho em meu peito muitos corações, mas nenhum por inteiro. Vou encontrando partes de mim em outros. Todos aqueles que um dia amei tinham cravados em seus semblantes espelhos que refletiam a minha imagem.
As vezes me pergunto se realmente houve amor, enganamo-nos tão facilmente. Procuramos amar o que nos seja sempre mais cômodo. Egoísmo ou esperteza?
Temo por um dia me consumir pelos meus sentimentos, sempre tão vorazes. Dizem que o homem não é uma ilha. Eu sou o mundo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Utopia Ideológica


Diante do conturbado presente que estamos vivenciando é muito comum se ouvir a expressão “no meu tempo as coisas não eram assim”. Ficamos chocados com a precocidade de nossas crianças, a péssima qualidade da cultura que é vendida pela mídia, as músicas, os programas na televisão, vivemos um momento em que se vende ignorância e o mais triste é que ela é cegamente comprada.

Mas a questão não é essa. A questão é que o mais triste não está nesses jovens inconseqüentes sem cultura, ou melhor, que vivem esta cultura pobre; a questão é que nós, que hoje falamos que em nosso tempo as coisas eram diferentes, nós aceitamos isso tudo, pois nos acomodamos na idéia de que este movimento não mais faz parte de nossas vidas. Acreditamos que, por termos vivido nossas adolescências em um ritmo diferente, por termos tido infâncias que duraram até os 13 anos, somos, de alguma maneira, superiores e que os jovens de hoje nunca terão a vivência que tivemos, e que o nosso tempo foi o correto, foi o melhor.

Mas nos enganamos ao achar que permanecemos intactos no ‘nosso tempo’, fingimos que não estamos vivendo o presente, ignoramos as mudanças, pois elas não fazem parte da história que constituiu os nossos gostos e opiniões. Dizer que ‘no meu tempo as coisas eram diferentes’ é uma utopia ideológica. O tempo não é de ninguém, se mal temos posse de nós mesmos quem dirá que teríamos posse sobre o tempo. Engana-se aquele que acredita que o hoje não é bom o suficiente como fora ontem. E assim, negar as divergências do futuro não transforma ninguém em melhor, ou superior, mas sim somente configura uma personalidade intransigente e egoísta.

O nosso tempo é o agora, nós crescemos juntos com as nascentes facetas que hoje caracterizam os ideais de uma juventude sem moral. Nós fazemos parte deste contexto, por mais que não concordemos com este. Além do que muitas coisas novas podem ser excluídas do conjunto de porcarias que impregna nosso cotidiano. Somos teimosos em admitir que o novo talvez possa ser melhor, em alguns casos. Somos teimosos em pensar que tudo que existe hoje só existe por causa do que já fora criado antes. Somos teimosos em achar que o nosso tempo em algum momento chegou a ser nosso.

O nosso tempo é agora. Quem não é capaz de se abrir para o novo é aquele quem teme por ter suas idéias desvalorizadas. Devemos tomar cuidado ao criar nossas crenças em valores tão plásticos.