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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Primeira pessoa

Diferente do usual, hoje escrevo em primeira pessoa. Quem conhece os meus textos (os poucos que escrevi), sabe que gosto de narrar histórias. Nada além de puro subjetivismo, afinal o subjetivismo é seguro e tranqüilo. Mas hoje não.

Eu quis falar de mim sem medos e preconceitos, sem mentiras, simplesmente minhas palavras verdadeiras despidas de qualquer decoração. Hoje não falarei da temperatura do vento, e sequer de como o vento balança os cabelos de um personagem, personagem todos que representaram um dia alguma situação que vivi. Sou muito grata aos meus personagens, mesmo eles não tendo nome, mesmo eles sendo descritos com características físicas quase que insignificantes, e ainda assim mesmo sem eles terem uma história que seja.

Sou grata por eles viverem por, aproximadamente, 500 palavras, momentos que significam tanto para mim, e principalmente por eles expressarem em suas curtas histórias coisas que senti tão intensamente no momento em que os criei.

Na verdade posso dizer que eu sou o resultado de muitos personagens. É quase que um mal de artista, uma vez em contato com o palco quero contracenar com a vida para sempre. E tendo essa catarse fica fácil encarar os atos, monólogos, cenas e improvisos que aparecem no nosso caminho. Não me entenda mal, não me falta a modéstia, falo do palco porque o amo, e não porque me amo no palco. Stanislavski já dizia: Antes ame a arte em você, do que você na arte.

Sou apaixonada pela capacidade de poder nos transformar em outras pessoas, em poder viver outras histórias, outros sentimentos. Sou apaixonada pela possibilidade de ceder meu corpo a outra alma, e trazer a tona seus trejeitos, suas manias, o seu sorriso, o seu olhar, sua alegria ou tristeza...

O meu maior prazer secreto, que vos revelo agora, é o de observar as pessoas, seja em um ônibus, ou na rua, e imaginar o que elas fazem ali, quais suas ambições, quais seus desejos? Para onde vão, de onde vieram? O que estariam pensando naquele momento?

E quando eu observo as pessoas eu sinto como se comungasse com elas, como se eu estivesse dividindo a minha história com elas, como se eu estivesse dizendo – Eu te aceito, não te julgo, só quero te conhecer.

E mesmo sem sequer imaginar nada sobre estes estranhos, em alguns momentos eu sinto compaixão por eles, sinto dó, ou alegria. Sinto como se eu pudesse entendê-los, como se eu pudesse ler seus estados de espírito. Basta prestar atenção em seu semblante, suas roupas, objetos...

No fundo todos queremos ser notados, queremos compartilhar nossas histórias, e as contamos de maneiras diversas. Neste momento conto parte de mim com estas palavras, mas outra parte é simultaneamente contada pela imagem que passo da Mayara para o mundo. No fundo todo mundo tem seus personagens, e a vida não passa de uma grande peça.