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terça-feira, 19 de agosto de 2008

Feromônios

Seu cheiro não era de flor, seu cheiro não era de dia, seu cheiro não era de noite. Seu cheiro, era cheiro de alma. Quando ele passava, em passos largos pelo corredor, andando como quem quer chegar não sei aonde, era como se deixasse um gostinho de seu mundo para trás, para que se pudesse experimentar; uma amostra grátis de alucinação. Era como libido entrando pelas narinas.

Não precisava de beleza, não precisava de altura, sequer bíceps ou tríceps, quem sabe quadríceps. Não, nada disto. Bastava apenas caminhar. O seu jeito largado, o seu mundo largado. Passos firmes, apesar de não terem um rumo certo. Nada era certo, apenas o seu cheiro, o mesmo de sempre, mesmo ele não sendo o mesmo de sempre todos os dias. Perversa surpresa era conhecer quem seria ele a cada dia.

Seus olhos parecem esconder um segredo, talvez sua personalidade, ou seus medos, talvez. Mas não se pronuncia, palavras são perigosas, todos sabem disso. ainda mais para aqueles que são muitos em um. E ele era muitos, como poucos são capazes.

Tinha mais defeitos do que qualidades, nada que mudasse seu fascínio. É que ele tinha aquele cheiro, cheiro de mistério. E seu mistério, seu único charme, era o suficiente. Quando se espera pouco, qualquer coisa satisfaz.

Insana razão é a opção de o apreciar. Mas o ditado já diz que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Independente de haver coração ou não, há química. Pontes de hidrogênio, ligações covalentes, apolar, bipolar. Essa loucura que consome e conserva. Não é preciso motivo, somente instinto. E por isso, quando ele caminha e deixa um gostinho de seu mundo para trás, fica uma amostra grátis de alucinação.