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domingo, 1 de março de 2009

Sonhos em circulos

Cada passo mais uma marca. Mas ela seguia os pés de outro alguém. Talvez de alguém que ela sequer conhecesse, o que seria o mais provável... Marcas na areia, não longe do mar, mas distante o suficiente para que as ondas não desfizessem a caminhada.

A areia, que assim como tinha se moldado aos pés de outrem, realizava agora suas marcas. Talvez alguém as seguisse também, mas isso sequer passava pela sua cabeça. Estava simplesmente preocupada em seguir o caminho dos pés desconhecidos.

Ela não se importava se estava se desviando de seu caminho, nem se iria para longe de seu porto. Aqueles passos sinuosos a prendiam. Andava tão sem rumo pela vida que seguir o caminho de alguém a satisfazia. As vezes as pessoas se perdem, e qualquer indício de contemplação torna-se a fonte de seu apego.

Mas ela se apegara tanto àqueles passos que deixara de ver que ao seu redor havia um mar, havia montes e montanhas repletos de cheiros, repletos de cores e vida, a vida que ela tanto procurava nos passos pela areia. Mas ela não podia ver. Não que fosse sua culpa, são coisas que acontecem quando se ilude.

Era fim de tarde, o sol fazia com que o céu vibrasse em tons de rosa, misturados à laranja. O vento que batia era quase frio. Os pêlos de seu braço estavam todos arrepiados, um pouco pelo vento, um pouco pela alma. Ela já estava andando há um bom tempo. Era uma ilha. Não muito grande não muito pequena. Do tamanho adequado para acomodar gente. Vivia em uma aldeia, com poucas pessoas que se sustentavam do mar.

Estava a caminhar desde o amanhecer. A este ponto suas energias já estavam para acabar, sentia o cansaço batendo nas pernas, nos olhos, na fome... Mas isso não interferia, ela estava destinada a chegar até onde esses pés a levariam. Porém grande foi a surpresa quando notastes que tinha rodado a ilha. Os passos que seguira nada mais eram do que os seus próprios pés. Na procura de um novo rumo, esculpiu um caminho que se fez acreditar ser de alguém.

Quando se sonha muito, acaba se confundindo seus desejos com a realidade. E ali, onde se pode fechar aquele imenso circulo ela deitou na areia, as estrelas brotando no céu, como um consolo vindo de Deus. Ela derramou uma lágrima, triste e verdadeira.

Pobre menina, que culpa teve de sonhar demais?