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domingo, 7 de outubro de 2007

Ela Anoitece

E a pressão subia cada vez mais rápido. Estava a ponto de explodir. O desespero tomava conta de seu peito, ela já não agüentava mais estar ali, viver ali, morrer ali, nascer ali.

As paredes se fechavam ao seu redor, faltava-lhe o ar.

Seus olhos molhados fugiam do reflexo que a luz poderia realizar neles. Ela não queria a luz, ela não queria o reflexo, ela queria a paz, somente.

Ela sentia-se só, ela sentia-se fraca, ela sentia-se cansada, cansada de ser. Ela queria poder ultrapassar aquelas paredes, mas estava presa a elas. Ela queria sentir o seu chão. Mas ela não podia fazer nada, a não ser correr para o seu silêncio e sentir a pressão aumentando, e o desespero tomando conta de seu corpo.

Somente as paredes a entendiam. Aquelas paredes tão concretas, sempre quietas, eram as mesmas paredes que lhe prendiam... Mas elas não tinham culpa. Ao menos as paredes não poderiam feri-la como a vida faz.

As paredes não lhe diziam palavras confortantes, mas elas tinham a paz que ela tanto almejava. Ela olhava aquelas paredes sem medo de mostrar suas lágrimas. Ali ela podia sentir.

No fundo, o que ela queria era apenas compreensão.

Ela sentia dor, mas ninguém sentia a dor dela, ninguém queria saber da dor dela, todo mundo já tem suas dores.

Pela janela via-se o sol no poente. Seus raios laranja entravam fracos e mornos por uma aresta, como um respingo de dia que quis se despedir. Aquele laranja solitário tocou-a no peito, e isso aqueceu seu coração.

Naquele momento, em que a noite surgia, e tímidas estrelas tentavam aparecer no degrade de azul do céu que escurecia, ela se sentiu bem, enfim.

Ela sabia que talvez estivesse sozinha perante os homens, mas não perante a Deus.

O seu desespero tornou-a humana.

A sua dor trouxe a sua benção.

Ela não estava mais só.

Ela fechou os olhos e respirou profundamente. Sentiu a vida entrando em seus pulmões. Sentiu a paz, assim como as paredes, que agora já não a sufocavam mais.

Seu rosto, ainda úmido trazia uma sutil expressão de felicidade. Ela ainda tinha medos, mas ela era maior do que eles. Sempre fora, embora nunca tenha visto por seus olhos estarem turvos devido às lágrimas.

Mas o vento secou as lágrimas. E assim como o laranja tornou-se azul-escuro, a dor tornou-se paz.

Seu peito estava leve. Ela estava leve.

Ela estava azul.

Ela tinha a paz.

Ela anoiteceu.