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sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O acordar

Suave como o vento que batia na janela era o seu olhar perdido naquele instante tão sólido. Triste era ver do que a realidade era feita. Antes poder viver na deliciosa embriaguez de seus sonhos, mas sonhos acabam e uma hora há de se acordar.

Colocar os pés no chão então fora mais frio do que a temperatura ambiente.

Independente do calor específico do azulejo ela estremeceu ao sentir aquela textura lisa e branca. A questão não era o azulejo, era a realidade.

Por um instante respirou, como se ela não o fizesse automaticamente, como se respirar fosse algo inusitado e controlável. Queria sentir controle sobre algo naquele momento.

Mas ela sabia que não adiantava se enganar. Ela sabia que ao levantar sentiria o azulejo gelado e que aquilo esfriaria a sola de seus pés. Assim eram todas as manhãs quando ela acordava e se separava de seus sonhos. Mas isso não a fazia parar de sonhar. Ao contrário. A partir do momento em que abria seus olhos a única coisa que queria era voltar a fechá-los...

Nem todos os olhos estão preparados para enxergar o mundo.

A luz pode ser a treva se encarada de forma importuna.

O sonho virou sua realidade, e a realidade tornou-se carma.

Quisera ter força, quisera ter coragem, quisera ter olhos para encarar seus medos.

Mas nem sempre se consegue sozinha ser dois.

Nem sempre se consegue triste sorrir.

Nem sempre se consegue na dor viver e entender para que viver.

Ela lutou, mas hoje não mais.

E ela vê o ontem ao fechar seus olhos e repousar um último momento, o seu momento de paz...

Ela só quer repousar.

Repousar.