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sábado, 4 de julho de 2009

Detalhes simples

São apenas detalhes, detalhes que sequer se sabe se são reais ou imaginários, detalhes que o prendem em seus sonhos. Nem ele sabe se deve acreditar ou não nestes, mas eles parecem tão sólidos para seus olhos líquidos.

Quando não se existe uma história, o coração iludido é capaz de criar uma. E a partir de cacos ele montou seu mosaico, juntando todas as peças possíveis, assim como as impossíveis também, de forma a obter uma imagem obtusa, assim como confusa para os olhos que não fossem os seus.

Porém, para ele tudo era claro e óbvio. No marasmo de suas criações a realidade se fundia com a ilusão e formas abstratas lhe revelavam a pureza de uma história sem um final concreto.

Toda sua vida estava naqueles detalhes. Se isso não fosse real, o que seria então? Toda esta trama trazia tanto sentido para tudo, não poderia ser somente imaginação.
Não se tratava de detalhes palpáveis, sequer detalhes visíveis. Para ele eram como mensagens, bilhetes espalhados pelas diversas circunstâncias, todos com uma única mensagem, aquela que era a verdade absoluta para suas crenças, aquela que trazia sentido para sua esperança. A mensagem que dizia que nada era em vão.

E ele acreditava nisso, mais do que já acreditara antes em qualquer outra afirmativa. Ele se agarrava a esta possibilidade como se fosse o mais sensato a se fazer. Se bem que a lógica agora não lhe cabia mais como opção, talvez fosse tarde demais.

Não que estivesse completamente absorto em sua estória, um pouco que pelo contrário, sentido havia para aqueles que olhassem atentos. Mas a proporção de risco era inevitavelmente igual. Todos nós sabemos que os sonhos nem sempre terminam em realidade.

Mas para ele este era um risco que valia a pena correr. Acreditar nos detalhes era o que lhe dava o brilho no olhar, é o que trazia a vida para sua existência. Não se pode tirar de um homem o direito de sonhar, muito menos o direito de se enganar.

Uma vida sem sonhos é uma existência vazia, e mais vale uma lágrima verdadeira a uma trajetória de mentira.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Submersão

E naquele momento ela se perdeu em si. Mas não somente em si, ela se perdeu naqueles olhos. Fixos e firmes, ternos e escuros. Um momento que na realidade tangível não passara de poucos segundos e milésimos, mas que para sua alma, foi a eternidade intensa que somente o coração dos que amam pode identificar.

Ela parou, em todos os sentidos. Parou de pensar, parou de respirar, parou de existir; parou para que aquele instante também parasse, e não passasse nunca mais. Como podia um par de olhos causar-lhe tanto impacto? Simples olhos, de um castanho escuro; olhos pequenos, mas intensos. Olhos que costumam sorrir, mas que para ela, somente para ela, assumem expressões puras e verdadeiras; olhos que para ela confidenciam verdades e segredos.

E quando estes olhos se chocaram com os dela, o impacto deu-se em seu peito, que em um ritmo acelerado iniciou uma melodia. Ela podia ouvir as batidas involuntárias, mais involuntárias que de costume de seu pulsante coração. E suas mãos estavam a cintilar devido as gotículas de suor que brotaram antes mesmo que ela pudesse perceber.

Incrivelmente o silêncio que se fizera no momento foi capaz de dizer todas as palavras que algum dia já ficaram subentendidas. Ela se sentia em paz, uma paz profunda e angustiante. Tanta coisa poderia ser feita, seus instintos e desejos reprimidos sob a pele estavam a gritar, e ela lutava contra a loucura que se passava em seu interior.

Mas uma hora ela havia de retomar a respiração, e quando suas pálpebras se uniram e um sopro de ar afundou seu diafragma, já era tarde demais. Seus olhos, agora constrangidos se desviaram dos olhos dele. Ela sabia que não poderia fazer nada, não naquele momento, assim como ele, também sabia que aquele momento existiu tão intensamente para ele quanto fora para ela.

Os olhos não mentem, independente das palavras que sejam ditas sob a sua influência. E ela jamais se esqueceria de tudo que foi dito naquele momento. As palavras ficaram cravadas na sua pele, brincando sob a forma do arrepio.

Algum dia tudo faria sentido, era o que ela esperava.