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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Submersão

E naquele momento ela se perdeu em si. Mas não somente em si, ela se perdeu naqueles olhos. Fixos e firmes, ternos e escuros. Um momento que na realidade tangível não passara de poucos segundos e milésimos, mas que para sua alma, foi a eternidade intensa que somente o coração dos que amam pode identificar.

Ela parou, em todos os sentidos. Parou de pensar, parou de respirar, parou de existir; parou para que aquele instante também parasse, e não passasse nunca mais. Como podia um par de olhos causar-lhe tanto impacto? Simples olhos, de um castanho escuro; olhos pequenos, mas intensos. Olhos que costumam sorrir, mas que para ela, somente para ela, assumem expressões puras e verdadeiras; olhos que para ela confidenciam verdades e segredos.

E quando estes olhos se chocaram com os dela, o impacto deu-se em seu peito, que em um ritmo acelerado iniciou uma melodia. Ela podia ouvir as batidas involuntárias, mais involuntárias que de costume de seu pulsante coração. E suas mãos estavam a cintilar devido as gotículas de suor que brotaram antes mesmo que ela pudesse perceber.

Incrivelmente o silêncio que se fizera no momento foi capaz de dizer todas as palavras que algum dia já ficaram subentendidas. Ela se sentia em paz, uma paz profunda e angustiante. Tanta coisa poderia ser feita, seus instintos e desejos reprimidos sob a pele estavam a gritar, e ela lutava contra a loucura que se passava em seu interior.

Mas uma hora ela havia de retomar a respiração, e quando suas pálpebras se uniram e um sopro de ar afundou seu diafragma, já era tarde demais. Seus olhos, agora constrangidos se desviaram dos olhos dele. Ela sabia que não poderia fazer nada, não naquele momento, assim como ele, também sabia que aquele momento existiu tão intensamente para ele quanto fora para ela.

Os olhos não mentem, independente das palavras que sejam ditas sob a sua influência. E ela jamais se esqueceria de tudo que foi dito naquele momento. As palavras ficaram cravadas na sua pele, brincando sob a forma do arrepio.

Algum dia tudo faria sentido, era o que ela esperava.

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